A medida mais urgente por Gabriela Mello Gouvêa
Essa abordagem trata de algo que foge aos ditames formais do Direito, permeando o salutar exercício da humanidade.
Ao longo dos meus quase 20 anos trabalhando no interior, não medi esforços para que a Justiça chegasse da maneira mais compreensível para as milhares de pessoas com origens humildes e que tive o prazer de me relacionar. Sim, prazer, pois, via de regra, sempre fui muito bem tratada, uma vez que a forma com que buscava me conectar a cada uma dessas pessoas, fazia com que fosse criada uma relação interpessoal de respeito e de gentilezas recíprocas.
Já venho escrevendo acerca disso e da importância da parte humana no desempenhar das funções dentro da Justiça. No meu caso em especial, como um ser humano que vai à casa de outro, para lhe explicar fatos de suma relevância, faz-se necessária a adequação ao linguajar popular e à cultura local, tendo em vista que, tal conduta representa, pelo menos 80% do trabalho, de modo a possibilitar que o mesmo seja, de fato, efetivo.
Porém, hoje, aproximadamente 2 anos depois que já não trabalho nesse local, recebo por volta de 7 da manhã, uma mensagem de WhatsApp de uma moça, que confesso já não me recordar, mas que, de forma muito gratificante para mim, ainda lembrava-se do nosso contato visto que, normalmente eu a intimava em razão de episódios de violência doméstica.
Ainda que de forma oficiosa, pois não mais poderia ajudá-la como profissional local, meu senso humano respondeu com toda a empatia que pude recolher em mim mesma, orientando-lhe juridicamente, mas, ESPECIALMENTE, a acolhendo como mulher e como suposta vítima, em completo desespero e sob supostas e constantes ameaças, que fantasiavam acerca de traições, perda de guarda, impedimento de retorno ao lar, etc.
O caso em si diz respeito aos envolvidos, é meramente ilustrativo para demonstrar com veemência, a importante atuação da Justiça junto à população, especialmente no que diz respeito ao trato humanizado.
É mister que se deve primar para que haja a eficácia da norma, mas sem JAMAIS esquecer, do esclarecimento consistente e do acolhimento do indivíduo, que se encontra em frágil posição.